quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

A boate lotada era um alívio.

Ali, sozinha, no meio de toda aquela gente, podia finalmente respirar. Dançando ao ritmo da música estridente que fluía das enormes caixas de som. O alívio era não conseguir pensar. Sem muito esforço era capaz de dispersar os pensamentos sem se fixar em nada ou ninguém. 

Fechou olhos. Mas logo os abriu. Precisava ver o que acontecia a sua falta. As pessoas dançando, se beijando... Assim como ela mesma, alheias ao mundo do lado de fora. Como se os problemas se limitassem à fila do bar ou à cerveja, tão quente quanto a temperatura que o ar condicionado não conseguia dissimular. 

O máximo que se permitia pensar - mais por hábito do que por escolha - era na tal da bagagem que cada um dos assíduos frequentadores do clube noturno trazia consigo. Haviam rostos novos, claro. Mas junto sempre haviam pessoas como ela, fugitivas oficiais. Seres humanos acovardados que se refugiam sempre no mesmo confortável esconderijo e, ainda sim, mantendo-se anônimas ao transitar pelas pistas de dança. Às vezes, integrando-se ao ambiente, sequer eram vistas. 

Liberdade. Sim, o estar ali era ser livre de julgamentos, de família, de responsabilidade, da ética e dos bons costumes.... No meio daquela horda de estranhos tão conhecidos pouco importava seu nome, sua idade, seu endereço ou seu poder aquisitivo. No dia seguinte o mundo poderia ruir e se tornar pior do que já era, mas naquele momento o foco era a dança, a música e o esquecimento. 

Porque o esquecimento não dói a quem esquece.