quinta-feira, 22 de novembro de 2012

Times New Roman



Encostada ao parapeito da janela, vi o céu escurecer e mais um dia ir embora.
Cansada, apoiei as costas na parede da varanda e fui escorregando lentamente, até estar sentada no chão, com os braços em torno das pernas dobradas e a cabeça recostada nos joelhos.
Viro o rosto, encarando a bola mal feita de papel amassado no canto do cômodo.
Meu coração dispara. Ler seu nome no frio da Times New Roman impressa já é o suficiente pra recordar meses de esquecimento.
Para mim, Augusto deveria estar morto e enterrado. Mas, se há algo que a vida me ensinou, é que as coisas nem sempre decorrem como deveriam...
Alcançei a outrora folha A4, tentando retomá-la a forma original. Algo aperta em vazio dentro de mim, como tentando se agarrar a algo que não existe mais.
"Augusto..." - digo em voz alta, saboreando as sílabas de seu nome uma à uma, sentindo-a na calidez de meus lábios
Tento, todos os dias, agir como se não houvesse existido. Às vezes funciona. Às vezes não. Em algumas ocasiões, eu choro, grito ou, até mesmo, sorrio, lembrando do seu jeito brincalhão de me olhar nos olhos (sem piscar) e sussurrar que me amava.
Quisera eu poder reclamar da ausência de uma presença que, em verdade, nunca existiu. Como quem reclama de não ser amado, quando sequer já amou, contestando um sofrimento cuja intensidade desconhece. Quem dera não o tivesse amado. Quem dera não tivesse existido... Mas Augusto, para minha desgraça, é tão real agora, - que o sei morto - quanto quando era vivo.

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