segunda-feira, 28 de novembro de 2011

la lettre je vais jamais envoyer

C’est ma vie. C’est parfait. Je sais que ma vie est bonne. J’ai mes amis, j’aime mon université, tout est parfait.

Mais tu me manques. Me manquent vous tous.

É um pouco como aquela peça que fomos ver, você se lembra? Enquanto falava o ator, era preciso lutar para que o vazio não se instalasse dentro de nós. E era mais fácil porque você estava ao meu lado. Ou aquele filme que fomos ver juntos. Você segurou a minha mão. E fica tudo mais fácil assim. Sua mão de dedos pequenos. As vezes, sinto como se você fosse inalcançável, como se, como ela, tivesse morrido. Mas você ainda está aí. Em algum lugar, estudando francês, lendo um livro, estudando filosofia. O que faz o mundo de ti? Se ainda estás aqui, tão perto, agora, o que falta para que eu te encontre? Se te deixei ir, me desculpe. Acho que eu sempre soube que, um dia, precisaria de liberdade. Eu só era pequena demais para entender que não é preciso dar fim para se ter liberdade. Eu poderia ter tudo e ainda te ter. Agora já é tarde. Mas será?

Je ne sais pas pourquoi je te laisse partir. Mais je veux ici avec moi. Je te veux.

domingo, 27 de novembro de 2011

Abandono

Se afastou com um sorriso no rosto, mas eu sabia que não era de alegria. Sorria porque não sabia o que fazer quando ficava sozinha. Porque quando virava as costas e se despedia de todos, tudo o que a esperava era um quarto vazio. Quantas vezes não pensei em você, imaginando-a chorando, gritando, sofrendo sozinha de dores que ninguém poderia aliviar. Se iludindo, acreditando que nada poderia melhorar.

Agora não é diferente. Fico imaginando como você está, como ficou depois que eu fui embora. Como se sente após mais um abandono.

Não é pena, é pior... Culpa.

Sofro.

Tenho pesadelos com a sua solidão.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

Marco

"Era a morte. Fora tão sorrateira quanto lhe disseram que seria. Virou o pulso machucado, estava atrasado. Sua mãe ficaria furiosa novamente, ligaria para Anthony e reclamaria do filho desnaturado que não puxara em nada a pontualidade inglesa da família. Podia até visualizar a cena: o irmão, perfeito, de terno sob medida e gravata italiana, no escritório renomado em que trabalhava, deixando de lado o computador de última geração para atender à Dona Rosemary e ouví-la reclamar sobre a atitude irresponsável do filho mais novo. Sim, 'mais novo'. Não fosse pelo intervalo de três minutos, o qual, segundo a mãe, fora essencial para separar o gêmeo bem-sucedido do fracassado, teriam sido idênticos. Compartilhavam os mesmos cabelos morenos e, até certa idade, o mesmo brilho aventureiro nos olhos verdes. O caçula sorriu, ignorando a dor e abraçando suas deliciosas memórias infantis. Na época, eram apenas Tony e Marc, duas crianças absurdamente altas para a própria idade. Inseparáveis, adoravam brincar de desenhar e construir coisas, sonhavam em ser arquitetos e dominar o mundo. Apesar da tenra idade, eram excepcionais em quase tudo que faziam, admitiam-no. 'Tempos Dourados, que não voltam mais', sussurrou para si mesmo. Os meninos logo cresceram. Tony e Marc viraram Anthony, o engenheiro dono de empresa e Marco, o desempregado com negócios escusos. Simplesmente acontecera... Em um dia estavam juntos, no outro já não estavam mais. Verdade seja dita, sua mãe nunca o vira com bons olhos. Sabia, desde sempre, diferenciá-lo de seu irmão, tal qual um fruto podre, que facilmente se destoa dos demais. Ela estava certa no final das contas. Marc era covarde, talvez fosse esse seu maior defeito."