sábado, 9 de abril de 2011

Quando fecho os olhos, o mundo some

Quando vinha tomar café, quem o atendia era sempre ela. Não teria reparado se não fosse ao mesmo lugar todos os dias. O que havia para reparar? Era sempre a mesma decoração, a mesma toalha, as mesmas xícaras iguais, a mesma televisão passando o mesmo programa. Não podia esperar que não fosse a mesma garçonete.
Não havia no que reparar.
Era sempre o mesmo jeans, o mesmo all star vermelho, o mesmo cabelo loiro preso no sempre igual rabo de cavalo. Os dentes meio tortos, o aparelho metálico, os lábios finos, sem graça - como tudo ali.
Levantou os olhos do celular e a viu. O que ela vivia? Ela vivia café e sanduíches gordurosos? Ela vivia a escola? Não, era muito velha para isso. A faculdade, talvez? Mas porque ela. Tomou um gole de café.
Ela sempre sorri assim quando oferece outra xícara? Não sabe ela que a resposta é "não"? Porque está atrasado, como sempre. Para alí só para não chegar na hora. Para não ter que reparar no trabalho. Porque não repara em nada.
Mas porque naquele dia se são todos iguais? Talvez porque acordara cinco minutos antes do despertador e não depois. Talvez porque tinha uma estrela ainda no céu. Talvez porque tenha feita um pedido. Ou simplesmente porque tenha fechado os olhos naquele momento. Quando fecha os olhos, o mundo desaparece.
E quando volta, é outro.

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